Após perder o protagonismo que tinha no período entre 1994 e 2014, quando polarizava o debate político nacional com o PT, o PSDB começa a projetar o futuro da legenda, que perdeu relevância no cenário nacional. Essa discussão interna pode envolver a fusão ou incorporação à outra legenda. Neste momento, o partido tem 2 possibilidades — PSD ou MDB. Esta informação é da consultoria político-empresarial Arko Advice.

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Presidentes do PSDB, Marconi Perillo (GO), e do PSD, Gilberto Kassab (SP), confirmam conversas sobre fusão entre os 2 partidos | Foto: Reprodução e Ruy Baron/Valor DF

Mesmo tendo integrado federação com o Cidadania em 2022, que elegeu apenas 7 deputados, e hoje tem 5 na bancada federal, o PSDB tem apresentado resultados eleitorais adversos desde 2018, quando nem sequer chegou ao segundo turno na disputa ao Palácio do Planalto, vencida pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

No pleito presidencial de 2022, os tucanos, após intensa disputa interna, não lançaram candidatura própria. O partido optou por aliança com a hoje ministra do Planejamento, Simone Tebet (MDB), que ficou em terceiro lugar. O MDB fragmentou-se, em pelos 3 pedaços: apoio, respectivamente, à candidata do partido, a Lula e Bolsonaro.

Além disso, no pleito de 2022, o PSDB perdeu a grande vitrine política que tinha — o governo do estado de São Paulo.

Cidadania não deve acompanhar o PSDB
No que depender do presidente do diretório brasiliense do Cidadania, partido federado com o PSDB, desde 2022, o ex-governador e ex-senador Cristovam Buarque (DF), acha que “nosso casamento com o PSDB foi um desastre completo”.

Cristovam criticava a tese da federação antes mesmo de ser firmada, sob a alegação de que essa apenas abalaria a identidade dos 2 partidos. Realmente, o resultado foi fraco.

Trajetória ascendente e vantagens
O PSD, por sua vez, registra trajetória ascendente. Nas eleições municipais de 2024, elegeu o maior número de prefeitos, e quebrou a hegemonia que pertencia ao MDB, desde 1992.

A eventual união entre PSD e PSDB têm o potencial de culminar na construção de robusto partido de centro. As siglas juntas teriam 5 governadores e controlariam o maior número de governos estaduais.

Mais do que isso, teriam 2 nomes colocados como pré-candidatos ao Planalto: o governador do Paraná, Ratinho Júnior (PSD), e o do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), este último, pouco expressivo, já que vem de gestão que permitiu a tragédia climática que arrasou o estado do Rio Grande do Sul, em maio de 2024.

Ademais, com maior expressão municipal, estadual e no Congresso, caso haja fusão ou incorporação, o lado do PSD deve prevalecer, e caso esse partido lance candidato ao Planalto, seria o governador do Paraná.

Nova configuração no Congresso
PSD e PSDB teriam, ainda, o maior número de prefeitos, além de controlarem o maior número de cidades no chamado G-103, grupo que reúne os municípios com mais de 200 mil eleitores.

Na Câmara, as legendas teriam a quarta maior bancada da Casa, com 60 deputados — 42 do PSD, e 18 do PSDB. No Senado, teria a maior bancada, com 16 senadores — 15 do PSD e 1 do PSDB.

Com todo esse peso político, o projeto nacional do PSD para 2026 poderia ganhar força. Vale recordar que, nas eleições de 2022, a legenda tentou viabilizar candidatura própria.

Ocupação do centro político
Presidido pelo ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab, o partido lançou o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (MG), que desistiu de concorrer. Posteriormente, buscou a filiação de Eduardo Leite, que optou por prosseguir no PSDB.

Outro aspecto é que Kassab tem defendido que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), aliado e cotado para concorrer ao Planalto, dispute a reeleição em São Paulo, e postergue o projeto nacional para 2030.

Em entrevista concedida ao programa Canal Livre no ano passado, Kassab chegou a afirmar que imagina o PSD ocupando o espaço, ao centro, que pertenceu ao PSDB de 1994 a 2014.

MDB também como opção
No que diz respeito ao MDB, que observa os movimentos do PSD em direção ao PSDB, também, virou o foco para os tucanos. O presidente nacional do MDB, Baleia Rossi (SP), recordou então que o PSDB surgiu de dissidência do MDB, em 1988, durante a ANC (Assembleia Nacional Constituinte), e admitiu a possibilidade de incorporação do ninho tucano ao MDB.

Se concretizada, tal incorporação culminaria também no surgimento de robusto partido de centro. A união entre as 2 siglas, deixaria o MDB como o partido com o maior número de governadores – 6 ao todo, com 3 de cada. E com o maior número de prefeitos — 1.127 — 855 do MDB, e 272 do PSDB, assim como o G-103, e com a quarta maior bancada da Câmara — 60 deputados, com 42 do MDB, e 18 do PSDB.

No Senado, essa fusão ou incorporação teria 12 parlamentares — 11 do MDB, e 1 do PSDB. Ficaria atrás do PSD (15) e PL (14).

Divergências regionais
Apesar de o desejo de Baleia Rossi, a incorporação do PSDB ao MDB poderá esbarrar em interesses divergentes dos líderes regionais das legendas.

Entretanto, caso esse impasse seja resolvido e a incorporação se realize, quem poderia despontar como presidenciável seria Eduardo Leite (RS). Pelo lado do PSDB, eventual candidatura de Leite poderia esbarrar nos interesses do MDB governista, assim como nos interesses dos segmentos do partido ligados ao bolsonarismo.

Em suma: as articulações que envolvem os partidos de centro indicam a tentativa de construção de alternativa aos chamados lulismo e bolsonarismo. Ao tentar atrair o PSDB, o PSD sonha consolidar-se como grande legenda de centro.

Ao vislumbrar essa estratégia do PSD, o MDB também se move em direção aos tucanos, já que o fortalecimento do partido de Kassab representa ameaça à hegemonia do MDB no centro do espectro político-ideológico, conforme revelaram as eleições municipais de outubro de 2024.

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