Ford anuncia fim da produção de carros no Brasil e fechamento de 3 fábricas
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A montadora Ford anunciou, nesta segunda-feira (11), que vai encerrar a produção de carros no Brasil neste ano. Serão fechadas as fábricas em Taubaté (SP), que produz motores, Camaçari (BA), onde produz os modelos EcoSport e Ka, e em Horizonte (CE), onde são montados os jipes da marca Troller. A empresa informou que irá manter seu centro de desenvolvimento de produtos, na Bahia, o campo de testes, em Tatuí (SP), e a sede administrativa, em São Paulo.
Cerca de 5 mil trabalhadores devem ser afetados na América do Sul, estima a companhia. De acordo com o Sindicato dos Metalúrgicos de Camaçari (BA), cerca de 10 mil trabalhadores serão atingidos só no local. Em nota, o governo da Bahia disse que vai buscar alternativas para substituir a montadora, divulgou a página do sindicato.
Entidades sindicais
Várias entidades sindicais de trabalhadores divulgaram nota criticando a “decisão unilateral” da empresa e em apoio aos metalúrgicos, como foi o caso da CTB e Fitmetal, assinada pelos respectivos presidentes Adilson Araújo e Marcelino da Rocha. A Força Sindical, em nota assinada pelo presidente Miguel Torres, veiculou que com “total falta de sensibilidade social, a Ford age sem diálogo algum com os sindicatos representantes dos trabalhadores das unidades que serão fechadas.”
“Uma mistura de ignorância e obscurantismo colocou o nosso País como ‘pária’ mundial. A Ford não teve dúvidas: percebeu o nosso contexto — como temos pouco peso político e econômico e um grande custo Brasil —, veio aqui e fechou todas as suas fábricas. Vai criar empregos em outros países e deixou 3 ‘puxadinhos’ para ver o que acontece — 1 na Bahia, outro em Tatuí (SP) e a sede regional na capital paulista”, protestou a UGT, em nota assinada pelo presidente Ricardo Patah. A Conlutas, manchetou: “É urgente resistir! Ford quer fechar as portas no Brasil”.
A CNI (Confederação Nacional da Indústria) e Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), sobre saída da Ford, disseram que é preciso reduzir Custo Brasil.
A montadora estadunidense já havia anunciado, em 2019, o fim da produção na fábrica de São Bernardo do Campo (SP).
Pandemia piorou crise
De acordo com comunicado da empresa, “a pandemia de Covid-19 amplificou a persistente capacidade industrial ociosa e a queda nas vendas, que resultaram em anos de perdas significativas”. A empresa afirmou que vai trabalhar em colaboração com os sindicatos e outros parceiros no desenvolvimento de “um plano justo e equilibrado para minimizar os impactos do encerramento da produção.”
"Com mais de 1 século na América do Sul e no Brasil, sabemos que essas são ações difíceis, mas necessárias para criar um negócio saudável e sustentável”, disse Jim Farley, CEO e presidente da Ford.
A Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), por meio de nota, afirmou que não iria fazer comentários sobre o tema, pois trata-se de “uma decisão estratégica global de uma das nossas associadas”. "Mas isso corrobora o que a entidade vem alertando há mais de 1 ano sobre a ociosidade local, global e a falta de medidas que reduzam o custo-Brasil”, disse a Anfavea.
Veículos virão de Argentina e Uruguai
A produção vai ser encerrada imediatamente em Camaçari e Taubaté, mantendo-se apenas a fabricação de peças por alguns meses para garantir disponibilidade dos estoques de pós-venda. A fábrica da Troller, em Horizonte, vai continuar operando até o 4º trimestre de 2021. As vendas do EcoSport e do Ka serão encerradas assim que terminarem os estoques.
A montadora diz que seguirá importando no Brasil utilitários esportivos, picapes, como a Ranger, e veículos comerciais de fábricas da Argentina, Uruguai e outras origens, mantendo “assistência total” ao consumidor brasileiro com operações de vendas, serviços, peças de reposição e garantia. Informou ainda que planeja acelerar o lançamento de diversos novos modelos conectados e eletrificados.
A Ford estima um impacto de US$ 4,1 bilhões em despesas recorrentes com o anúncio, sendo cerca de US$ 2,5 bilhões em 2020 e US$ 1,6 bilhão em 2021. Cerca de US$ 1,6 bilhão está relacionado ao impacto contábil à baixa de créditos fiscais e depreciação acelerada, enquanto os US$ 2,5 bilhões restantes serão diretamente no caixa — rescisões, acordos e outros pagamentos.
100 anos de Brasil
A Ford foi a primeira indústria automobilística a se instalar no Brasil, em 1919. O bairro do Bom Retiro, em São Paulo, foi o primeiro lugar a abrigar uma linha de montagem de veículos em série no país. O edifício, inclusive, era uma cópia da sede da empresa em Detroit (EEUU).
No ano passado, a montadora foi a 6ª que mais vendeu automóveis, com 119.406 veículos emplacados (entre automóveis e comerciais leves), com 7,14% do total, segundo a Fenabrave. A empresa perdeu espaço nos últimos anos, especialmente para a sul coreana Hyundai, que hoje é a 4ª maior montadora do Brasil.
O Ford Ka é o seu modelo mais vendido no Brasil; foi o 5º mais emplacado no país em 2020, com 67.491 vendidos.
Ministério da Economia
Em nota, o Ministério da Economia lamentou a decisão da Ford e disse que o movimento da montadora “destoa da forte recuperação observada na maioria dos setores da indústria no país, muitos já registrando resultados superiores ao período pré-crise”.
A pasta diz ainda que “trabalha intensamente na redução do Custo Brasil com iniciativas que já promoveram avanços importantes. Isto reforça a necessidade de rápida implementação das medidas de melhoria do ambiente de negócios e de avançar nas reformas estruturais”. (Com Estadão Conteúdo e CNN Brasil)