4 em cada 10 multinacionais pretendem cortar empregos
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Um levantamento recente feito pelo The Conference Board, respeitado centro de pesquisa, em parceria com o fórum empresarial The Business Council revela que quatro em cada dez presidentes executivos de multinacionais pretendem fechar vagas ao longo dos próximos 12 meses.
Grandes empresas de setores diversos – como Coca-Coca, Boieng, American Airlines e Estee Lauder – estão entre as que já anunciaram cortes nas últimas semanas.
Por um lado, a incerteza de trabalhadores em relação ao futuro de sua renda os leva a moderar gastos. Por outro, a incerteza de empresários em relação ao futuro do consumo os leva a frear investimentos.
O resultado dessa equação também foi capturado pela pesquisa do The Conference Board. Quase 40% dos cerca de 100 presidentes de empresas entrevistados afirmaram que devem cortar em mais de 10% investimentos planejados anteriormente.
Há setores, no entanto, que têm sido beneficiados pelo maior distanciamento social, o que deverá continuar ocorrendo se algumas mudanças de hábito forem permanentes.
Empresas de tecnologia tiveram bons resultados nos últimos meses. A Netflix, por exemplo, ganhou 26 milhões de novos assinantes no primeiro semestre.
Outro segmento que tem esboçado recuperação é a construção civil.
Preparadas para passar mais tempo em casa, muitas famílias resolveram promover pequenas reformas para tornar a vida mais agradável.
Isso pode resultar na geração de novos postos de trabalho nesses segmentos. No caso da construção civil, que é um setor intensivo no uso de mão de obra, a criação de vagas já aparece nos dados oficiais recentes do Brasil.
“É uma tendência positiva porque a construção civil pode absorver mão de obra deslocada de outros setores”, diz Bráulio Borges, economista da consultoria LCA e pesquisador-associado do Ibre/FGV.
Porém, em meio a tantas incertezas, as projeções econômicas para o próximo ano são de taxas de crescimento inferiores às contrações estimadas para 2020.
“A pandemia do coronavírus terá um efeito negativo enorme e duradouro sobre a economia global; 2020 e 2021 serão anos perdidos em termos de crescimento”, aponta relatório recente da EIU (Economist Intelligence Unit).
As expectativas da consultoria britânica são de que apenas a Ásia terá uma expansão em 2021 maior do que a recessão deste ano.
Especialistas ressaltam que um dos riscos que esse cenário impõe é uma queda da produtividade, que comprometa o crescimento futuro.
Trabalhadores parados tendem a perder habilidades, já as máquinas se deterioram.
Além disso, estudos têm revelado que as parcelas mais vulneráveis da população têm sido as mais prejudicadas com a perda de emprego, o que tende a agravar a iniquidade social.
“Está claro que uma das consequências dessa crise será um aumento das desigualdades que já eram crescentes”, diz o economista Otaviano Canuto, membro do Policy Center for the New South e do Brookings Institute e diretor do Center for Macroeconomics and Development, em Washington.
Borges destaca que isso tem levado a uma rediscussão sobre o papel do Estado.
É possível que o mundo caminhe para um modelo permanente de maior proteção às parcelas mais vulneráveis da população. A questão é como governos mais frágeis fiscalmente, como o Brasil, colocarão esses mecanismos de pé.
“Para o Brasil, esse será um grande desafio. Tenho a impressão de que o governo queimou mais cartuchos do que deveria nesses últimos meses”, diz Borges.
O economista cita como exemplo a transferência de renda emergencial que, embora tenha chegado aos mais pobres, parece ter beneficiado também famílias que não precisavam do socorro.
O vultoso pacote adotado pelo governo brasileiro tem contribuído para a retomada da economia, mas piorou a situação fiscal do país.
Tanto no Brasil quanto no resto do mundo, até mesmo nos países ricos, chegará o momento em que a retirada dos estímulos emergenciais se tornará inevitável.
Resta saber que governos convencerão o setor privado a retomar seus planos de investimentos para garantir que a recuperação atual não perca força e as economias retornem 100% ao seu nível pré-crise.
Fonte: Folha de São Paulo