Papel do profissional de RIG: habilidades e atuação estratégica
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Com a proximidade da votação no Senado do PL (Projeto de Lei) 2.914/22, que trata da “representação de interesse realizada por pessoas naturais ou jurídicas perante agentes públicos”, pareceu-me oportuno discorrer sobre o papel do profissional de RIG (Relações Institucionais e Governamentais), que exerce essa atividade.
Antônio Augusto de Queiroz*
A atividade de RIG é frequentemente associada ao lobby, mas sua abrangência e complexidade vão muito além dessa visão simplista. Esse profissional não é mero intermediário ou lobista tradicional. Ele deve ser estrategista, intérprete do ambiente político e facilitador do diálogo entre a sociedade, o mercado e o Estado.
Para desempenhar seu papel com excelência, ele precisa dominar série de conhecimentos e habilidades, desde o entendimento dos fluxos decisórios e do ciclo orçamentário até a capacidade de construir relacionamentos sólidos e éticos com os agentes públicos.
Conceitualmente, a atividade de RIG consiste em esforço organizado de gerenciamento, educação e comunicação, para promover a interação entre setores organizados da sociedade, o governo e o Congresso Nacional.
Registrada na COB (Classificação Brasileira de Ocupações) do Ministério do Trabalho e Emprego, a atividade inclui monitorar atos e ações dos entes governamentais, desenvolver estratégias de atuação com base na estrutura e na conjuntura política, produzir e difundir informações que subsidiem o processo de tomada de decisão, articular a promoção de causas e construir canais de interlocução confiáveis entre os agentes de governo e as organizações da sociedade. Tudo isso deve ser feito com base em boas práticas, ética, transparência e integridade.
O trabalho do profissional de RIG é multifacetado e envolve série de atividades estratégicas. Idealmente, ele deve realizar monitoramento inteligente, utilizando ferramentas tecnológicas para acompanhar atos governamentais, proposições legislativas e mudanças no ambiente regulatório. Mapear autoridades e fluxos decisórios, identificando os atores-chave, seus interesses, influência e poder no processo decisório. Oferecer consultoria estratégica, interpretando as políticas públicas e seus impactos sobre os negócios, apontando riscos e oportunidades. Desenvolver inteligência política, analisando o ambiente político e seus atores, com definição de matrizes de poder e interesse. E atuar no advocacy e engajamento, participando de reuniões, audiências e eventos, além de orientar sobre caminhos a seguir.
Profissional de RIG promove o diálogo
A atividade de RIG vai além das 3 dimensões tradicionais: análise técnica, monitoramento e relacionamento com os decisores. Inclui a interpretação do ambiente político e do conteúdo das políticas públicas, a tradução dos impactos dos atos governamentais sobre a economia, a política e a sociedade, e o trabalho de inteligência estratégica, que consiste em montar estratégias de atuação de acordo com a conjuntura política.
O profissional de RIG, portanto, deve atuar como conselheiro e intérprete da realidade política, capaz de antecipar cenários, identificar oportunidades e mitigar riscos. Ele precisa conhecer profundamente as instituições do Estado, os fluxos decisórios e as técnicas de montagem de estratégias.
A relação com os poderes públicos é essencial porque o Estado detém a supremacia sobre o mercado e a sociedade, podendo intervir diretamente nas atividades econômicas e sociais. O profissional de RIG atua para promover o diálogo com os decisores, alertando sobre riscos e oportunidades nas políticas públicas.
Contribui para a melhoria do ambiente de negócios, evitando aumento de burocracia e custos. Busca conter restrições adicionais às atividades representadas, apresentando dados e análises sobre os impactos das políticas públicas. Amplia a capacidade de resposta do mercado e da sociedade aos poderes do Estado. E melhora a qualidade do processo decisório, aumentando a legitimidade das políticas públicas.
Habilidades
Para atuar de forma eficaz, o profissional de RIG precisa conhecer as estruturas e processos decisórios, entendendo como funcionam as instituições do Estado e as regras que regem as decisões. Deve identificar os atores-chave, sabendo quem são os gestores e decisores, suas atribuições e influências.
Desenvolver estratégias de atuação com base na leitura da conjuntura política e econômica. Estabelecer canais de comunicação, construindo redes de relacionamento com stakeholders relevantes. Monitorar constantemente as mudanças no ambiente político, social e econômico. E elaborar informações de qualidade, produzindo dados e análises tecnicamente consistentes para embasar a defesa de interesses.
Além do conhecimento técnico, o profissional de RIG deve possuir habilidades como agilidade e iniciativa, capacidade de antecipar cenários e agir rapidamente. Persuasão e argumentação, habilidade para convencer e mudar opiniões. Resiliência e persistência, disposição para enfrentar desafios e manter o foco nos objetivos. Ética e transparência, compromisso com a legalidade e a integridade nas relações. E comunicação e relacionamento interpessoal, capacidade de construir e manter redes de contatos.
Para melhor compreender cada uma dessas dimensões, recomendo a leitura de 2 livros de minha autoria: RIG em Três Dimensões; Trabalho Parlamentar, Defesa de Interesses Perante os Poderes Públicos, Análise Política ou de Conjuntura e Para Entender o Funcionamento do Governo e da Máquina Pública, ambos disponíveis em meio on-line na Amazon.com ou impresso, na editora Diálogo Institucional, situada no Setor Bancário Sul, edifício Seguras, 4º andar, Brasília (DF).
Em síntese, pode-se afirmar que o profissional de RIG desempenha papel fundamental na mediação entre o setor privado, a sociedade e o Estado. Sua atuação, portanto, deve ir muito além do lobby tradicional, envolvendo análise estratégica, construção de relacionamentos e defesa de interesses de forma ética e transparente.
Para ser eficaz, ele precisa dominar os fluxos decisórios, entender o ciclo das políticas públicas e construir redes de influência baseadas na confiança e no respeito. Em ambiente cada vez mais complexo e dinâmico, o profissional de RIG é agente essencial para garantir que os interesses de seus representados sejam ouvidos e considerados no processo de formulação e implementação de políticas públicas.
(*) Jornalista, analista e consultor político, mestre em Políticas Públicas e Governo (FGV), sócio-diretor da empresa “Consillium Soluções Institucionais e Governamentais”, ex-diretor de Documentação do Diap, membro da Câmara Técnica de Transformação do Estado, do Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos, e do Cdess (Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social Sustentável) da Presidência da República - Conselhão.