Mesmo com o desgaste da política e a ausência de partidos com identidade ideológica clara, a sensibilidade de setores organizados da sociedade pode sim romper preconceitos. Ainda é possível abrir canais de diálogo com o eleitorado, demonstrando que o caminho da política é o mais sensato para solucionar, de forma pacífica, os problemas sociais.

André Santos*

As eleições gerais em 2018 trarão vários desafios à sociedade civil. Excetuando a hipótese de uma candidatura de Lula e Ciro Gomes, as expectativas de eleger um presidente que dialogue com os movimentos sociais são remotas e, caso se confirmem as tendências, uma agenda ainda mais conservadora e fiscalista estará no centro dos debates políticos-eleitorais. Outros países que recentemente realizaram seus pleitos seguem nessa linha.

No Brasil, a política tem sido colocada, equivocadamente, em xeque. A sociedade tem optado pelo radicalismo nas suas ações ao invés de debates em busca de consensos que abarquem a média da sociedade. A política é percebida, por amplos setores da sociedade, como algo errado na cabeça da população mais carente e também de setores médios, o que poderá dar espaço a aventureiros e mal-intencionados em busca do poder pelo poder.

É um momento que nos remete às eleições gerais de 2010. O então presidente Lula esbanjava 80% de aprovação popular, o que viabilizou a vitória de sua sucessora, Dilma Rousseff, a primeira mulher eleita presidente do Brasil.

Setores ligados ao empresariado nacional e internacional, rural e urbano, inseguros quanto ao modus operandi da então nova chefe do Poder Executivo (era pós-Lula), mudaram de alvo com vistas a interferir na condução de políticas públicas e ter protagonismo na mediação dos conflitos com o governo.

Escolheram o Poder Legislativo. O desafio foi eleger representantes para a Câmara dos Deputados e para o Senado Federal, identificados com a agenda do mercado. Dessa forma, poderiam usar o Congresso como escudo e atuando na linha de frente contra os pretensos exageros do Executivo. A resistência, então, seria realizada no Congresso.

Um exemplo dessa atuação ficou evidente na sanção da Lei 12.651/12, que trata do Código Florestal. Durante a tramitação no Poder Legislativo, houve uma intervenção direta dos representantes do setor empresarial rural no Congresso Nacional. O trabalho coordenado desse segmento redundou na aprovação da matéria na Câmara e no Senado. Mesmo com os vetos presidenciais, os interesses do setor foram parcialmente atendidos.

Para reforçar a bancada empresarial no Legislativo, entre outras ações, os empresários buscaram financiar as campanhas de vários candidatos identificados com suas pautas. O objetivo foi o de consolidar uma bancada com representantes tanto na base do governo, quanto na oposição, de forma a exercer influência no pulverizado espectro político partidário congressual.

Ainda para contribuir com essa atuação, uma mudança na legislação em 2009, a Lei 12.034, permitiu a doação de até 2% do faturamento bruto das cooperativas para as campanhas eleitorais. Isso significou um aporte vantajoso, em especial para as campanhas dos empresários rurais, em que o sistema de cooperativas é mais representativo.

O atual cenário exige que as organizações da sociedade civil, principalmente o movimento sindical, reflitam sobre o cenário eleitoral de 2018.

Haverá poucas candidaturas à Presidência da República mais alinhada às pautas dos movimentos sociais. É importante voltar os olhos para a renovação das bancadas no Poder Legislativo, apoiando representantes que possam barrar as incursões conservadoras que dia após dia conquistam novos adeptos na sociedade.

O setor empresarial, tão beneficiado no passado com o financiamento privado, agora terá de enfrentar o debate político. Isso porque a legislação atual proíbe a doação de pessoas jurídicas para as campanhas eleitorais, o que certamente abrirá espaço para o debate em torno de programas, plataformas e projetos voltados para o atendimento de demandas primárias da sociedade.

Mesmo com o desgaste da política e a ausência de partidos com identidade ideológica clara, a sensibilidade de setores organizados da sociedade pode sim romper preconceitos. Ainda é possível abrir canais de diálogo com o eleitorado, demonstrando que o caminho da política é o mais sensato para solucionar, de forma pacífica, os problemas sociais.

O quanto antes for iniciado um processo de reorganização da sociedade em torno da política, mais chances teremos na construção de um País melhor para as gerações futuras. Um novo organograma político, oxigenado por mentes e pensamentos imbuídos de sentimento pátrio, pode ser a chave para a retomada do desenvolvimento do Brasil.

(*) Especialista em política e representação parlamentar é analista político do Diap

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