O ambiente político parece determinante para o resultado da eleição. É claro que entram outros fatores, como programa de governo e recursos de campanha, mas nenhum isoladamente se sobrepõe à vontade de continuidade ou de mudança do conjunto dos eleitores.

Antônio Augusto de Queiroz*

No texto anterior sobre eleições, tratei dos “eixos de campanha e do respeito ao eleitor”. Neste abordo dois dos três vetores que são determinantes numa campanha eleitoral: o ambiente político e a popularidade do governante no momento da eleição.

O ambiente político por ocasião das eleições gerais é como uma espécie de “general natureza das coisas”, que derrotará inexoravelmente qualquer um que o desafie. O ambiente político é um sentimento difuso que se manifesta pelo “humor do eleitor” em termos de continuidade ou de renovação. São tendências quase que irreversíveis.

Em geral, o sentimento de mudança ou de continuidade está associado à capacidade de o governante atender às demandas da população por serviços públicos, como saúde, educação, segurança, transportes, emprego ou valores como democracia e ética. A percepção de satisfação significa ambiente de continuidade e o de decepção ou rejeição significa ambiente de mudança.

Outro termômetro para medir o ambiente político ou o humor do eleitor tem a ver com o nível de aprovação do presidente da República no momento da eleição e a percepção sobre o posicionamento político dos candidatos em relação ao governante e suas práticas.

Quando o ambiente é de continuidade, o sucessor tende a ser o candidato apoiado ou aliado do governante. Quando o ambiente é de renovação, o sucessor será de algum dos grupos políticos adversários. Pelo menos tem sido assim nas últimas seis eleições presidenciais.

A tabela a seguir resume o ano da eleição, o governante e o ambiente político:

 
ANO DA ELEIÇÃO



PRESIDENTE DA REPÚBLICA



AMBIENTE POLÍTICO
1989 José Sarney Renovação
1994 Itamar Franco Continuidade
1998 FHC Continuidade
2002 FHC Renovação
2006 Lula Continuidade
2010 Lula Continuidade
2014 Dilma Rousseff Continuidade
2018 Michel Temer Renovação

Fonte: DIAP

Nas seis últimas eleições, os índices de aprovação dos presidentes e o desempenho de seus candidatos foram muito próximos, com derrota dos candidatos apoiados pelos presidentes impopulares e a eleição dos candidatos dos presidentes populares, conforme segue.

No pleito de 1989, o então presidente José Sarney não teve candidatura à sua sucessão, mas nenhum dos candidatos dos partidos que lhe davam sustentação teve bom desempenho nas eleições. Os três mais votados, com tônica oposicionista, foram Collor (PRN), Lula (PT) e Brizola (PDT), tendo os dois primeiros disputado o 2º turno, com vitória de Collor, com 53,03% dos votos válidos.

Em 1994, Itamar Franco tinha 55% de aprovação popular e FHC, que era seu candidato e ex-ministro da Fazenda, foi eleito com 54,24% dos votos válidos, em primeiro turno, contra Lula, do PT.

Na eleição de 1998, FHC era aprovado por 58% da população e teve 53,06% dos votos válidos, sendo reeleito no primeiro turno, também contra Lula do PT.

No pleito de 2002, FHC tinha 35% de aprovação e seu candidato, o ex-ministro do Planejamento e da Saúde, José Serra, alcançou 39% dos votos válidos no segundo turno, perdendo a eleição para Lula, que obteve 61,27% dos votos válidos.

Em 2006, Lula tinha 63% de aprovação e foi reeleito com 60,83% dos votos válidos em segundo turno, derrotando o tucano Geraldo Alckmin.

Na eleição de 2010, Lula tinha aprovação superior a 80% e elegeu sua candidata, a ex-ministra de Minas e Energia e da Casa Civil, Dilma Rousseff, em 2º turno, com 56,05% dos votos válidos, contra José Serra, ex-governador de São Paulo.

Em 2014, Dilma Rousseff tinha 38% de apoio (bom e ótimo) e 38% de regular, e se reelegeu em segundo turno, contra Aécio Neves (PSDB), com 51,64% dos votos válidos.

Para 2018, a julgar pelo baixo apoio popular ao governo Temer e pelo sentimento de decepção da população sobre as práticas e as políticas públicas em curso, a tendência será de renovação. E todos os que estiverem vinculados ao atual governo, inclusive aqueles com perspectiva de poder, como o PSDB, se não se desvincularem rapidamente da imagem do atual Chefe do Poder Executivo e do arrocho que vem promovendo, certamente estarão fora da linha de sucessão.

Como se pode depreender desta leitura, o ambiente político parece determinante para o resultado da eleição. É claro que entram outros fatores, como programa de governo e recursos de campanha, mas nenhum isoladamente se sobrepõe à vontade de continuidade ou de mudança do conjunto dos eleitores.

(*) Jornalista, analista político e diretor de Documentação do Diap

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