João Guilherme Vargas Neto: Irrelevância sindical
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- Categoria: Agência DIAP
Um alerta preocupante sobre esta possibilidade foi, na última sexta-feira (10) e no sábado (11), a completa ausência da presença sindical – orientadora, auxiliadora, vigilante e solidária – durante a verdadeira avalanche de mais de cinco milhões de brasileiros que buscavam resgatar suas contas inativas do FGTS. Uma ausência estarrecedora qualquer que seja a envergonhada explicação para isso.
João Guilherme Vargas Neto*
Pelos meus cálculos, o número de leitores regulares de jornal impresso no Brasil oscila em torno de cinco milhões; o número de filiados aos partidos políticos é de 12 milhões e o total de sindicalizados ultrapassa os 18 milhões.
Levando-se em conta as diferentes bases para comparação, o número de leitores regulares de jornal impresso corresponde a 5% dos adultos letrados, os filiados a partidos são 12% do eleitorado e os sindicalizados são 18% da população economicamente ativa (arredondei, grosseiramente, as três bases comparadas em 100 milhões de brasileiros).
Esses índices quantificam e simbolizam os pilares da construção democrática de uma sociedade avançada: a liberdade de expressão, com a leitura do jornal impresso (que para Hegel era a oração da manhã do homem moderno), a liberdade política, com a existência de partidos (essenciais no nosso ordenamento constitucional) e a liberdade sindical, com a representação dos trabalhadores pelos Sindicatos (através das categorias e com unicidade na base).
Os números torturados acima revelam que dos três pilares o mais forte e o mais expressivo quantitativamente é o pilar da representação sindical.
Ao longo dos anos da democratização e principalmente depois da Constituição de 1988, o papel dos sindicatos na sociedade tem sido crescente, em especial nas conjunturas econômicas favoráveis. O maior feito do movimento sindical, que atesta a sua relevância, foi a conquista da política de valorização real e acelerada do salário mínimo, cuja depreciação marcava a trajetória de sua série histórica, até mesmo na primeira década e meia do regime democrático.
O papel do sindicalismo, comparado às duas outras institucionalidades (comunicação e política) e em termos absolutos tem sido relevante e não só numericamente.
Um dos efeitos da grave recessão e da derrota sindical associada ao impedimento presidencial é a contestação histórica desta relevância. O movimento sindical, se dividido e incapaz de resistir eficazmente, tornar-se-á (apelo à mesóclise presidencial) irrelevante, um elefante sem osso. É isto que pretendem obter, estrategicamente, nossos adversários e inimigos.
Um alerta preocupante sobre esta possibilidade foi, na última sexta-feira (10) e no sábado (11), a completa ausência da presença sindical – orientadora, auxiliadora, vigilante e solidária – durante a verdadeira avalanche de mais de cinco milhões de brasileiros que buscavam resgatar suas contas inativas do FGTS. Uma ausência estarrecedora qualquer que seja a envergonhada explicação para isso.
Quando nos concentramos na organização das manifestações do dia 15 de março e trabalhamos para seu êxito, estamos procurando também contrariar esta tendência funesta à irrelevância sindical.
(*) Membro do corpo técnico do Diap, é consultor de diversas entidades sindicais