Falta um blockbuster na estratégia de Nelson Barbosa
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- Categoria: Agência DIAP
O caminho poderá estar em um grande plano descentralizado de destravamento dos investimentos em saneamento, articulando operações que permitissem aos municípios quitar suas dívidas com a União com suas concessões de saneamento.
Luis Nassif,
na Coluna Econômica
Desde o governo José Sarney, havia uma fórmula infalível da área econômica romper com impasses políticos: lançar um pacote econômico. Após o Real, escassearam os pacotes, mas permaneceu o fantasma da volta da inflação e do risco de fim de mundo para romper com impasses.
O que está faltando à área econômica é encontrar o pacote de medidas que opere como um divisor de águas. Obviamente, não poderá ser da natureza dos velhos pacotes, interferindo em contratos e investimentos. Mas a urgência do momento exige mais do que a peregrinação do Ministro Nelson Barbosa por gabinetes de economistas, pregando o bom senso.
Há um conjunto de situações que podem ser somadas para criar o impacto político.
Uma delas é a possível entrada em massa do capital chinês na economia.
Este mês Barbosa irá à China conferir de perto as intenções chinesas. Da embaixada, a China tem acenado com profundo interesse em entrar, até sozinha se for o caso, em obras de fôlego, como a ferrovia Bioceânica e o Trem Bala.
A prova do pudim está nos PMI (Procedimentos de Manifestação de Interesses). Por ele, uma empresa procura o governo e manifesta interesse em assumir a concessão de determinada obra. Acertados os ponteiros, ela se incumbe de preparar os estudos técnicos necessários para a licitação.
Se houver interesse real da China, as empresas locais poderão recorrer aos PMIs.
Barbosa passou a quinta-feira passada em São Paulo conversando com economistas de várias linhas econômicas sobre sua estratégia para a recuperação da economia.
Tem insistido que, ao contrário do que a imprensa vem propalando, o Congresso tem se mostrado receptivo às propostas. Muitos parlamentares sentem necessidade de prestar contas para sua base, sobre o que está fazendo para enfrentar a crise.
Rebateu, também, as análises taxando de inócuas as medidas de liberação do crédito.
Com o pagamento dos passivos do Tesouro aos bancos públicos, há uma enorme massa de recursos no BNDES, indexadas à TJLP.
A estratégia é utilizar melhor o que já existe. No caso do crédito agrícola, os financiamentos pré-custeio têm grande demanda, inclusive para antecipar a compra de insumos.
O BNDES retomou as linhas de capital de giro para exportação e para PME (Pequenas e Microempresas) a um custo de 15% a 19% ao ano, inferior aos 40 e tantos por cento das linhas convencionais. O desafio será chegar na ponta, já que é uma operação indireta.
Cobrando 15% ao ano, abre-se grande oportunidade de refinanciar as prestações de bens de capital.
A mesma lógica foi seguida na permissão para os trabalhadores utilizarem até 10% dos recursos do FGTS e da multa de rescisão como garantia para o crédito consignado. Não haverá nenhum saque adicional, mas apenas o que está previsto na legislação. Mas, utilizando o FGTS no financiamento, o trabalhador terá mais poder para barganhar redução das taxas de juros.
Já houve mudanças importantes nas concessões, com pelo menos quatro avanços sistêmicos.
Foram revistas as regras para a concessão de rodovias e ferrovias, conferindo maior flexibilidade. Antigamente, era obrigatório a duplicação depois de cinco anos. Agora, há um gatilho levando em conta a demanda.
Nas telecomunicações, está em andamento a reforma do marco regulatório, passando do regime de concessão para o de autorização, sem as obrigatoriedades das concessões.
Flexibilização da Lei do Petróleo para campos antigos da rodada zero. Quando foi votada a Lei do Petróleo, a rodada zero incluiu um conjunto de campos, com prazos de concessão de 8 a 10 anos. Muitos deles têm potencial para mais, mas as concessionárias não investem por falta de prazo. Esticando o prazo, destrava-se parte dos investimentos da Petrobras e de outros campos.
Os técnicos do TCU (Tribunal de Contas da União) estão prestes a terminar os estudos para três ramais das ferrovias. Continuaram trabalhando em pleno recesso carnavalesco.
Mesmo assim, ainda falta o blockbuster.
O caminho poderá estar em um grande plano descentralizado de destravamento dos investimentos em saneamento, articulando operações que permitissem aos municípios quitar suas dívidas com a União com suas concessões de saneamento.
A partir daí a recuperação da economia poderia se dar na ponta dos municípios.
Mas é medida que exige mais do que a correção técnica: demanda criatividade e coragem políticas.